Existe uma falsa impressão de normalidade pairando no ar. Pra quê mesmo estamos presos em nossas casas?
Há um sentimento crescente de superioridade entre nós. É como se o vírus que tanto estrago fez na China, no Irã, na Itália, na Espanha e agora nos EUA, não fosse se comportar do mesmo jeito no Brasil.
Tem um questionamento inapropriado lançado à revelia em discursos que saem da boca de políticos a pessoas muito próximas: vida ou economia? É uma pergunta descabida, uma escolha sem sentido, já que uma não existe sem a outra. E sim, é possível escolher as duas!
Parte da confusão se dá pelo desalinhamento ideológico de nossas lideranças, mas não é só isso que nos cega… Somos traídos por nosso próprio cérebro que subestima os mais de 130 mortos diários que já contabilizamos por aqui, por compará-los aos impressionantes 700, 800, 1000 infectados que perdem a vida em outros países nas mesmas 24 horas. Por ser menos, parece pouco. Só que não é.
É como se aviões lotados de passageiros estivessem caindo sem deixar sobreviventes entre os escombros. É como se a lama tivesse descido sobre muitas casas, ou a água inundado tudo. A mesma falta de ar, o mesmo fim abrupto e sem chance despedida. Todos os dias lá fora, e aqui no nosso quintal também.
Quando falamos em números, esquecemos de que por trás de cada um deles havia uma história, muitos amigos, uma família… Assim meio como a minha e a sua. Existia uma vontade de sair de casa, de experimentar a liberdade de novo. A urgência de fazer a vida seguir em frente. Foram sem saber que iriam. Subestimaram e perderam. E, agora, resta o choro de quem fica.
Fica em casa, vai… Por quem já foi e por todos aqueles que amamos tanto e que não precisam ir.