De um show televisivo acompanhado por milhões de nós, ao show de horror experimental em que estamos inseridos. Somos audiência e personagens. O enredo vale muito, um milhão e meio lá e a vida do lado de cá. Aonde vai dar e como terminará? Tudo pode acontecer quando a sobrevivência depende de um jogo de resistência.
Lá, no show, topam tudo por dinheiro. Como é mesmo que se calcula o preço a ser pago para ser um milionário? Quanto da saúde emocional cada um tem de investir no tal “jogo”? E quanto ainda precisará ser pago para reestabelecer a credibilidade, a autoconfiança, o amor próprio quando tudo acabar? Para desdizer o que foi dito diante de tantas câmeras e para dizer que não é tão mau ou sujo assim como se pensa. Que não é falso e que gosta de tomar banho sim, viu? Que não é racista ou homofóbico, nós que não entendemos a brincadeira. Não existe inocência. Há 21 edições, uma escolha “entre o bem e o mal, ser ou não ser’.
Aqui no show, o dos horrores, os números dantescos revelam, dia após dia, as tragédias geradas pela omissão. Do discurso irresponsável e tumultuado que fez muitos acreditarem em remédios que não resolvem e desconfiarem das vacinas que existem. A escolha pelo erro mais uma vez. A insistência que tem um preço, que vem como descontrole e insegurança quanto ao que pode acontecer. Estamos todos entregues à própria sorte. O mundo acompanhando a letargia com que deixamos o vírus circular e ganhar novas formas. Variante de Manaus, de Sorocaba, de Minas Gerais. No que isso vai dar? Em algo muito ruim, claro! Mas ruim “como” ou “quanto” ainda não dá para precisar. Esperemos: uns com medo, outros desafiando as estatísticas e negando os fatos. Uns com choro, outros com deboche. As panelas nas janelas e os aplausos no rega-bofe palaciano. O bem e o mal, o ser e o não ser.
Depois de tudo, vai dar Juliette, é claro. Ela sobreviveu às fofocas e traições. Chata, meio prolixa, mas íntegra às suas convicções. Ansiosa a ponto de não deixar ninguém falar, mas coerente com o que dizia na frente e por trás das pessoas. Sabemos, como audiência, reconhecer as virtudes e punir os desvios. E, depois de tudo, não vai dar Bolsonaro. Eliminaremos o vírus, a covid-19, e ele que, combinados, foram responsáveis por dar fim a história de centenas de milhares de brasileiros. Mostraremos, enfim, que enxergamos todos os crimes cometidos e exigiremos que eles sejam retratados. CPI é o começo. Que seja também o fim. A derrota virá como um “ele não” coletivo. Com sociedade, opinião pública, imprensa, poderes da república e organizações internacionais. Com militares e forças policiais do lado certo da história. Nós pagaremos o preço deste grande show da realidade nacional e sairemos mais fracos, abatidos, doentes, pobres… Contudo haverá uma chance para recomeçarmos.