“Mas por que quase ninguém viaja para o Brasil?“, pergunta pertinentemente um texto da Exame (leia aqui) após a divulgação com exclusividade de um ranking realizado pela Euromonitor com os 100 principais destinos turísticos no mundo, no qual o Rio de Janeiro (88ª posição) aparece como única cidade brasileira – isso em ano de Olimpíadas. Trata-se da constatação da incapacidade que o país tem de capitalizar com o turismo.
Está tudo aí disponível, ao gosto do freguês e com uma oportunidade enorme de transformação social, mas que acaba desperdiçada na falta de visão de governos (municipais, estaduais e federal), na péssima articulação e coordenação do setor (atrofiado em propor novas soluções, produtos e a desenhar roteiros que conversem entre si), numa malha rodoviária/ferroviária/aérea pouco funcional e, claro, na falta de interesse/informação/instrução de boa parte da população que não enxerga oportunidades reais de negócio na prestação de serviço para esse tipo de consumidor, o viajante.
Motivos não faltam para que visitantes queiram distância daqui. A violência urbana descontrolada ultrapassa números de zonas de guerra, a pobreza a céu aberto pode ser acompanhada em lixos que descem rio abaixo para contaminar mares, uma infinidade de surtos de doenças tropicais (Zyka, Chikungunya, Febre Amarela…), a imagem da materialização do caos (congestionamentos, voos atrasados, estradas esburacadas, filas intermináveis no check in de aeroportos e salas de embarque pouco confortáveis), uma crise política sem fim (corroborando a má fama do “jeitinho” nacional) e o péssimo comportamento nas redes sociais (please come to Brazil).
Ainda assim, sobram razões para que queiram vir passar um tempo aqui: das famosas praias do nosso litoral, a grandiosidade da maior floresta tropical do mundo, uma região pantaneira com fauna e flora exuberantes, a força das Cataratas do Iguaçu, um patrimônio histórico diverso e em boa parte preservado, um caldeirão cultural em perfeito convívio, o jeito cativante de um povo misturado que esbanja alegria em festas populares (é carnaval do samba, das marchinhas, do frevo, dos bloquinhos), dos festivais de música, do São João, do boi-bumbá, da fé no Círio, em Aparecida, saboreando aqui e acolá uma culinária riquíssima, inigualável mistura de temperos. Ah, e tem também a tendência de bajular quem vem de fora, a cereja do bolo.
Só que não é suficiente e continuamos catando migalhas sem aparente descontentamento com a situação, o que me faz desconfiar que, além de todas as causas possíveis, haja também uma tendência a auto-sabotagem. Vai além do vira-latismo (“temos que ser aceitos e, por não sermos, fechamos a guarda”) ou do vitimismo (“não nos entendem”). É orgulho e pretensão, uma quase arrogância de quem, no fundo, parece sentir um prazer profundo em pensar que, apesar de tudo, isso aqui é nosso e de mais ninguém. É o que pode explicar a nossa indiferença ao que todo mundo está cansado de saber: que turismo é uma industria poderosíssima, que traz riquezas e melhora vidas.
Sim, precisamos exigir soluções para as questões de segurança, da saúde e da educação nacional; é importante que continuemos zelando pelo petróleo e outras riquezas minerais; e é fundamental que acordemos finalmente para o valor de sermos herdeiros de um país tão rico de belezas e valores sócio-culturais. Uma coisa puxa a outra.
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