Enquanto a ciência avança e nos abre possibilidades incríveis, vivemos a reclusão de uma existência cada vez mais egoísta e solitária. O mundo que se conecta, desconecta. Não deixa de ser um paradoxo interessante e sem precedentes.
É o rompimento de fronteiras inimagináveis há bem pouco tempo. O limite que é sempre uma meta a ser superada chegando bem perto de nossas mãos. O infinito dentro de ideias e teorias colocadas em cheque, provadas e desmentidas. Novas verdades que são estabelecidas e rapidamente corroboradas, endossadas e finalmente ultrapassadas. A velocidade da luz na complementariedade de cérebros e computadores que entenderam que podem chegar longe juntos. O viver ligado e amparado por tecnologias sem desligar-se jamais desse novo cordão umbilical, sem o qual já não somos nada.
O passo seguinte foi dado. Estamos no amanhã, aquele tempo que imaginamos tão distantemente preso em filmes de ficção científica ou na cabeça de autores induzidos por alguma viagem psicodélica. Conversamos com aparelhos, interagimos com máquina, somos atendidos por códigos binários que já são capazes de presumir com alto grau de confiabilidade e quase 100% de assertividade o próximo movimento a ser dado.
O que queremos e do que temos medo. Vontades e anseios. Novas formas de nascer. Como e quando temos mais chance de morrer. Tecnologia criando mais necessidade por tecnologia de uma forma quase autônoma diante de olhos maravilhados de humanos-deuses.
De dentro e tocando toda esta revolução, estamos nós, seres humanos. Como escrevi em outro texto, “no interior, somos homens e mulheres cada vez mais fracos e perdidos sem saber em que focar nossa atenção. Pessoas perturbadas demais pelas opiniões que as cercam, limitam. Rótulos. De fora tudo parece encaixar-se, o sentido colocado em imagens, em percepções e interpretações, em leituras pouco cuidadosas. São espectros de divindades, a perfeição a ser admirada, copiada, criticada, destruída“.
O futuro que dia a dia tiramos do papel exibe muito do que um dia foi sonho. É incrível sermos as gerações que estão à frente dessa transformação e que podem ver tudo acontecer. Já a nova forma que estamos aprendendo de nos relacionar, a conexão para dissociação, materializa o pior dos pesadelos que podíamos ter. Do que adianta um mundo de facilidades se nos tornamos muito mais complicados? Ainda que um útero artificial amplie nossas possibilidades de sobrevivência neste planeta, continuaremos precisando de um elo forte que justifique a nossa vontade de permanecermos vivos.