Cercados para o Abate

Imagine uma casa parecida com outra qualquer, mas cujas paredes são translúcidas, transparentes não fossem as palavras que as formam. Ali, no lugar de tijolos, cimento e ferro estruturam-se frases que são elogios e ofensas, muitas vezes construções outras tantas desconstruções.

No interior, homens e mulheres cada vez mais fracos e perdidos sem saber em que focar sua atenção. Pessoas perturbadas demais pelas opiniões que as cercam, limitam. Rótulos. De fora tudo parece encaixar-se, o sentido colocado em imagens, em percepções e interpretações, em leituras pouco cuidadosas. São espectros de divindades, a perfeição a ser admirada, copiada, criticada, destruída.

Mas é ali dentro onde ordens são invertidas e o que parece pode não ser. Só nós somos capazes de definir com exatidão o que está lá no peito, no fundo do coração. É tristeza, angustia, inquietude, ansiedade, expectativa, frustração, decepção, ilusão. E alegria, amor, felicidade porque ninguém é de ferro. Vai saber o que se passa com cada um de nós além dos posts.

No princípio era o verbo e o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus (qualquer um deles até o que não existe). Já faz algum tempo… No agora, somos símbolos e símbolos sem significados que pensam ser Deus (cada um da sua maneira). E nós somos hashtags, arrobas, todos constantemente cercados para o abate. Só não chegou a hora. As palavras que nos cercam são capazes de matar pouco a pouco.

 

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