Caça às Bruxas

Soltamos as bruxas pelo prazer de caçá-las. Como é bom ter o aval de agredir o que julgamos ser do mal e de perseguir quem anda por caminhos à margem do nosso “certo”. O ataque é feroz e, via de regra, quanto mais estridente, menos embasado. O grito esconde a ignorância, vai além da truculência, da pura falta de educação, esbarrando na infantilidade de acreditar que tamanha fragilidade intelectual pode ser disfarçada pelo volume com que coloca a voz ou ainda pelo emprego bem sucedido das mais variadas classes de insultos.

A perseguição religiosa e social não é uma novidade. Reeditamos nosso passado, criamos novos argumentos e damos vazão a perigosos fantasmas. É o nascimento da era das trevas, do inferno em vida. A imposição pelo medo, a força de achar-se maior do que é, de sentir-se livre para ser um babaca por fazer parte de um grupo que não se entende na essência, o verdadeiro bando dos tolos.

A fogueira ganha força com a arrogância, o egoísmo, a intolerância e a falta de paciência. A burrice alimenta as chamas da vaidade, que engolem presas cada vez mais fáceis de um mundo sustentado em carências e aceitação. Por que aceitamos insultos? Que prazer encontramos em nos abrir tanto para a opinião e o julgamento de pessoas que jamais conviveríamos não fosse a facilidade trazida pelo clique de adicionar como amigo?

Banalizando relações, supervalorizando percepções, criamos demônios pós-modernos e damos a eles apelidos palatáveis: os haters. E lá estão eles,  sempre a postos para queimar seus alvos; acreditando que podem purificar o mundo com um domínio do que existe de pior na comunicação; com dedos ágeis cercando “inimigos”, criando esquinas sombrias perfeitas para o bote. E o pior, não só por catarse… Eles acreditam de verdade que salvarão o mundo com um levante cibernético de defensores da moral e dos bons costumes. Sem olhar para o que eles próprios dizem, fazem, como se comportam e o mal que provocam.

Nós não nos reconhecemos na ruindade, mas ela está nos definindo a todo instante.  Cuidado.

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