É bem possível que você que lê a este texto, independente da idade que tenha, consiga se recordar perfeitamente de uma ou outra coisa que vivenciou na época da escola. O vínculo que estabelecemos com a educação de base, aqueles momentos preciosos em que aprendemos a desenhar letras e a dar sentido a elas, é único e parte da construção de seres humanos capacitados a exercer sua cidadania.
Agora tente imaginar uma vida inteira privada de momentos assim, 84 anos travados numa luta por compreensão, por inserção ao contexto social em uma história de sobrevivência a tempos cruéis, resistência a uma dominação que assassina quem tanto ama e que utiliza da tortura para ter a renúncia de crenças e valores.
É esse o pano de fundo de “O Aluno” (“Uma Lição de Vida”; “The First Grader”), filme construído sob a persistência do queniano Kimani Maruge em vencer o analfabetismo e conseguir ler, por conta própria, a uma carta que recebeu do gabinete da presidência de uma sociedade em clara busca por coesão após terrível período de colonização e variadas/sangrentas guerras tribais.
Não espere um roteiro cheio de surpresas, mas sim momentos inspiradores que provam que personagens reais são mais do que capazes, com suas obstinações e força de vontade, de transformar realidades. Traz também discussões/reflexões interessantes sobre inclusão e exclusão, causas e consequências do uso desmedido do poder e da dominação, respeito e preconceito, além do valor da verdadeira vocação profissional (a importância de professores que amam o que fazem).
Ainda que repleto de lugares-comuns – mais um exemplo de luta dos tantos que a gente sabe serem comuns neste país desigual (e em várias outras partes do mundo) – oferece um argumento poderoso, a chave do cadeado, para que tenhamos esperança e não percamos a fé… E que só deixemos de querer aprender com as coisas desta vida quando nossos ouvidos estiverem cheios de terra.
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