Existe uma greve ainda mais dramática daquela que hoje reforça a divisão do Brasil entre paladinos acusadores de um futuro em desmonte pelo atual governo daqueles outros pragmáticos que defendem a importância de se pensar e entregar o presente, isso se quisermos sair da situação em que nos encontramos.
A greve de você que pensa diferente é a manifestação mais grave, séria e sem perspectivas que poderíamos adotar neste momento. Cansamos, viramos as costas e cruzamos os braços. Perdemos a afinidade, deixamos de admirar o diferente e de considerar que uma pessoa pode ser mais, BEM MAIS interessante do que as convicções políticas que possui.
Passamos somente a aplaudir e a valorizar quem corrobora e endossa as nossas crenças, quem está do nosso lado na guerra (que já foi disputa, luta e batalha). Achamos assim o espaço perfeito para gritar e somos endeusados por uma plateia sanitizada e muito servil ao que nos convém.
Só que sem diálogo não há presente e muito menos futuro em perspectiva. Já devíamos ter entendido que não é lá muito efetivo gastar energia pescando dentro do aquário ao qual estamos imersos até o pescoço. É um barulho que ajuda a mostrar a força do grupo, mas também a disposição dos oponentes. Não tem compreensão, propostas e soluções viáveis com cada um puxando a sardinha para o seu lado.
Tudo passa pela conversa, por uma negociação plausível, por dois lados incluídos na equação. Ainda que em sonho o país passasse por uma purificação e sobrasse apenas um lado, continuaríamos dependentes de uma parte importante de qualquer sociedade democrática saudável: a oposição. Não existe positivo sem negativo, yin sem yang, ponto sem contraponto e a evolução sem o confronto de ideias.
Portanto, não custa pedir que parem com as agressões e passem a respeitar o direito que cada um tem de estar aí de mãos dadas com você ou fazendo exatamente o que considera ser uma burrice. E não seja um ignorante, uma grossa, um ditador de ideias, ignorando o fato de que talvez juntos, você e aquela pessoa detestável com quem divide este espaço, podem aprender a construir uma terceira via que não esteja lá nem cá, mas que caiba perfeitamente no que mais buscamos no fim do dia, que é ser feliz e pelo maior tempo possível.