A síndrome de todos os poderes

Que monstros temos dentro de nós? Como eles interagem com o mundo?

Falam muito dos pequenos poderes, aquela irritante mania de se sentir o último biscoito do pacote e tripudiar de alguém em posição menos favorável. É duro de engolir! Mas também não é fácil ver quem manda e desmanda com certa autoridade e representatividade achando-se além da condição humana, divindade estabelecida e com moradia fixa na Terra, tão “vocês são uma merda”  que nos fazem duvidar que uma hora ou outra acabem eles próprios no banheiro.

Manda quem pode, obedece quem tem juízo… É o que dizem. Entre mandar e obedecer, um oceano inteiro de formas de interagir. Com jeitinho ou sem tato algum. De um carimbo no papel a uma parada no ponto de ônibus. Bom dia, em que posso te ajudar? Do chá de cadeira a fingir que não existe alguém ali só esperando pela boa vontade. Gente perturbada, iludida, viajando na ideia que podem nivelar a condição humana por sua própria mediocridade. Que pode transferir suas frustrações e problemas. Que tem o direito de ser desse jeito, “que eles se adaptem”! Será que alguém acha mesmo que existe justificativa ou alguma nobreza em gerar insegurança, raiva e humilhação em outra pessoa?

A síndrome de TODOS os poderes é reflexo da máquina que nos move, desde muito tempo sustentada em um dos eixos pela forma como um domina, controla e manda no outro. Em como o outro aceita, acata, abaixa a cabeça e é servil às ordens de um. Em como um acha que não precisa do outro e em como o outro acha que não vive sem o um. Do jeito como somos educados para receber a bucha calados e repassar para o primeiro pobre coitado que cruza na nossa frente. Na terra de injustiçados e ferrenhos justiceiros não há salvação que escape de uma boa observação do nosso próprio umbigo. Que monstros temos dentro de nós e o mais importante: como eles interagem com o mundo?

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