A vida é um espaço de soma

Na terra de alguém não abre-se espaço para o erro, que está sempre nos outros nunca em nós mesmos. Ai de quem cometer o sacrilégio de pisar em falso, tropeçar. Os dedos são apontados imediatamente e o julgamento corre solto com a concepção higienizada de seres hermeticamente vedados das impurezas deste mundo. A perfeição personificada do alguém, o dono da terra, é dita e exigida da boca para fora sem uma auto-análise coerente com o que até ele tem de mais humano: o cair para levantar, o errar para aprender e o viver para morrer. Ninguém durará para sempre e o “alguém” não se toca que é um entre tantos zés-ninguém.

A terra de ninguém – devastada por um alguém –  é árida, sem vida… É um trator, seguido do incêndio por dias seguidos somado à falta de água regando nossa alma, apagando nossos incêndios. É perceber-se morrendo e não ter forças para lutar. É não acreditar na superação, na correção de rota, no crescimento pessoal e no entendimento sincero do valor que existe em tentar de novo até que se consiga chegar lá.
É um lugar de correria desenfreada, cada um por si, sem a complementariedade de mãos estendidas, sem o empurrão que nos move pra frente, sem a sustentação que nos impede de afundar mais. Sem um sentimento de pertencimento, sem colocar-se na equação e como parte importante do todo, a poeira é varrida para baixo do tapete e deixa-se de entender a sua parte no balanceamento natural da vida.

Já a terra que é Terra, é nossa. É espaço de compartilhamento, embora muitas vezes pareça só divisão. Mas é que é tudo tão gigante que só mesmo juntando alguns aqui e ali para fazer-se ser o que é. A constituição que está na soma, no construtivismo, somam erros para grandes acertos. É a evolução que nos colocou de pé, que nos fez andar, que permitiu que desenvolvêssemos as melhores formas de expressar o que queremos, aquilo que precisamos e no que podemos ajudar. É o que criou o sentimento de cumplicidade, de poder compreender o que o outro quer, o que tem para nos oferecer e como isso pode nos ajudar a seguir em frente.  O que é meu e o que é seu, formando um nosso que é plural e indivisível por milhares de anos. A soma que trouxe tanto benefício e que não é mérito de um alguém específico; que ninguém tirará de ser de todo mundo. Acreditem: isso aqui é nosso!

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