Casa da mãe Joana

Fogos. Gritos. Palmas. Comemoração. Eu continuei atônito, embasbacado com o show que acabara de ser transmitido ao vivo por todas as emissoras de televisão, com exceção do SBT – que preferiu ficar com suas próprias aberrações e atrações pitorescas (Ken e Barbie humanos, para citar dois exemplos).

Não que algum dia eu tenha acreditado na Câmara dos Deputados, mas ver todos aqueles políticos rodeando um microfone como urubus em cima da carniça, e pior, falando com muita excitação e sem qualquer profundidade, foi desesperador, angustiante. Quanta falta de preparo, quantos argumentos vazios, quantas dedicatórias à família (a ponto de um deputado que tinha esquecido de mencionar o filho, voltar ao microfone para corrigir “a injustiça“).

Jean Wyllys, deputado que admiro, visivelmente descontrolado perdeu a razão e cuspiu em Jair Bolsonaro após ser ofendido de veado, boiola (e outros tantos xingamentos não tão novos) e de tê-lo visto, para nossa perplexidade e horror, subir ao púlpito para dedicar o voto aos militares da ditadura.  Não, Jean, um cuspe é sim motivo para você se envergonhar… Você mais do que ninguém deveria ter estômago – se é que é possível – para os seus colegas de trabalho.  Sempre apoiarei o uso de sua saliva para o discurso “na defesa dos direitos da população LGBT, do povo negro exterminado nas periferias, dos trabalhadores da cultura, dos sem-teto, dos sem-terra“. Adorei o seu voto frente aos canalhas, mas fiquei constrangido ao ver você perder as estribeiras e dar exatamente o que eles queriam: argumentos para desmerecer a sua brilhante fala.

Nem vou entrar tanto no mérito do Eduardo Cunha conduzir o processo com meio sorrisos e, vez ou outra, uma cara de “não é sobre mim que estão falando”. Foram ataques diretos ignorados com a pachorra de um verdadeiro bandido. De alguma forma ele se sente acima do bem e do mal, dono do circo que preside, suportado por uma turma numerosa disposta a vaiar em rede nacional quem o ofende. Tomei parte daquelas vaias como contra mim, contra minha inteligência, contra minha honradez e honestidade.

Como é difícil pensar num país controlado por pessoas que não dariam nem para a zeladoria de um condomínio, com todo respeito aos zeladores que tanto honram seus afazeres. Foram poucos segundos por deputado que somaram horas terríveis, e pela primeira vez – desde o horário político – pude acompanhar a grande foto do nosso parlamento. Ver o conjunto da obra reunido sob a alcunha de “Casa do Povo” forneceu a quem quisesse – independente do lado defendido, seja pró ou contra a aprovação do pedido de impeachment – a real dimensão do porquê estarmos tão mal e a razão pela qual continuaremos assim, pelo menos nos próximos três anos. Vivamos com esta realidade.

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