#Old, mas #Fundamental

Todo um período da minha vida sem backup, sem segunda chance, agora eternizado apenas nas lembranças. Tento calcular o tempo exato, medir a perda, saber até onde vai tudo o que de mim foi arrancado na esperança que não seja tanta coisa assim… Mas como está difícil dar peso e nota para o que está do lado de fora, lá longe, bem atrás do que realmente parece importar: o agora, hoje, neste instante. Sigo em frente.

Estamos à beira de uma vida sem memórias. Do viral, dos memes, de tudo aquilo que não seja #old. Como preservar toda essa enormidade que vem sendo feita, criada, registrada, compartilhada sem que se deixe de ser seduzido pelo factual? Como separar um tempo justo para a nostalgia, para a saudade, para a reconstituição de dias marcantes se, disputando a nossa atenção, está um feed povoado de “ências” – nossas carências, exigências, intransigências. É mais posse e egoísmo do que cuidado e preservação, mas quem se importa?

O pensamento de que tudo está ali, sempre pronto, disponível e acessível, é o Cavalo de  Troia de almas mimadas e desacostumadas a vínculos sólidos, o passo em falso de uma liberdade solitária, o ponto cego que não nos deixa ver que quem realmente se importa, zela, cuida e preserva; pega no meio dos braços, tranca bem no fundo do peito, dentro do cofre e esconde as chaves na esperança de que aquilo dure o máximo de tempo possível.

Perder verdadeiramente – sem backup, sem segunda chance – é antídoto capaz de afastar o nevoeiro do isolamento moderno. É remédio para fazer sentir sem disfarces, maquiagem ou anestesia o que precisa ser encarado de frente: nós nos importamos sim com alguém, com alguma coisa e com nós mesmos. Perder verdadeiramente – sem backup, sem segunda chance –  nos faz sonhar a possibilidade de viver tudo de novo, e acordar no meio do pesadelo de um presente sem volta.

Ah, se eu pudesse…

O HD que foi roubado noutro dia, o aplicativo descontinuado há algumas semanas, a “nuvem” despencando em tempestade bem em cima de minhas certezas… Provas destruídas de alguns anos percorridos, o desejo de salvar, copiar, colar, mas ‘página não encontrada’.

Resta agora aprender da pior forma possível – na ausência –  a preservar o que ainda está em mim: tudo que foi sentido e continua preso na memória; os amigos que podem me lembrar daquilo que porventura eu já tiver esquecido; e a baita lição de não cometer o mesmo erro duas vezes. Não confio mais em você como curadora da minha vida, Internet!

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