Quem ficou, no pensamento voou

Não faça novos amigos a menos que esteja em dia com todos aqueles que passaram por sua vida. Não abra novos capítulos sem um gancho muito bem amarrado nas outras histórias. Situações memoráveis e  fraternas que façam você querer voltar, reviver, reencontrar, recomeçar.

Em se tratando de relacionamentos, sempre que possível estabeleça recontratos. Somos mutáveis demais para deixar o dito pelo não dito. É importantíssimo ser transparente… Dizer o que antes era uma bobagem, mas que agora incomoda, machuca, dói; aquilo que você nem ligava, mas que agora te atinge em cheio, bem lá no fundo do seu coração.

Eu, por exemplo, tenho amigos com os quais não abro a boca para falar de futebol (mesmo porque não entendo) ou música ou política. Dá pano para manga e vira debate… Já com outros, parece uma recriação do Bolero de Havel: loopings infinitos em torno do mesmo tema, difícil mudar o disco. Com uns dá certo, funciona, com outros não… Normal, sem estresse ou comparações.

Fazer amizades, daquelas nos moldes atuais, não é tão difícil. Beijinho pra cá, eu te amo pra lá, vamos marcar um jantar qualquer horas dessas? Eu estou MORRENDO de saudade. E a vida segue blasé sem a devida e importante doação, exposição e esforço para a construção de elos duradouros.

E é exatamente por esse tipo de amizade, a que acompanha esse mundo reinventado a cada novo aplicativo criado, que nos estranhamos tanto e por tão pouca coisa nas redes sociais. Sem conhecimento verdadeiro do outro que dizemos “amar”, desprezamos suas ideias, contextos, vivências e partimos para o seja o que Deus quiser. E se não rolar… Beijo, não me liga; parar de seguir, de exibir no feed, excluir, bloquear. A planta arrancada sem poda, sem o adubamento do solo, que morreu por puro desconhecimento do quanto de luz e água eram necessários para torná-la frondosa, imponente e frutífera.

Não, não faça novos amigos sem conhecer e cuidar primeiro daqueles que você já tem. E ame-os como se não houvesse amanhã. E entenda, feito o recontrato com cada um deles, quando as ideias não baterem mais. Mesmo que o tempo e a distância digam “não”, mesmo esquecendo a canção. Feche antes de abrir-se ao novo. Porque mais do que uma música, o que importa é ouvir a voz que vem dos corações.

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