Sem sentir que é conosco

Sem comentários o “eu não achei que chegaria a este ponto”. Que mundo inconsequente! Sem desculpas para o “eu não tenho nada a ver com isso”. Não tira o seu da reta, você é um ser vivo, pensante, com vontade e disposição suficientes para ficar aí desse jeito parado esperando sabe-se lá o quê ou para impactar o entorno. Não tem essa de “eles”… A equação aqui é formada por nós, TODOS nós.

Sem delongas, firulas, gracejos, você é parte do que existe aqui e agora, das conquistas e mazelas desse mundo cão, feroz, disputado e, há quem diga, ainda assim maravilhoso. Como pequenas células, você compõe o corpo social que arrasta 2016 ladeira abaixo, meio que ignorando certas dores, verdadeiras chagas,  achando que pode ficar só acompanhando o que acontece ora horrorizado ora aterrorizado, mas sempre deixando pra lá.

Sem sombra de dúvida as coisas andam feias, violentas, catastróficas e a beira de um grande colapso. A gente pensou que já tinha vivido tudo e aprendido com isso, mas não, as atrocidades de eventos históricos agora perdidos em milhares, centenas ou dezenas de anos atrás acabaram não servindo para muita coisa.  Como eles puderam? Como deixaram tudo aquilo acontecer? Não tinha ninguém que se opusesse a tantos absurdos?

Tarefa fácil falar olhando para trás e palpitando sem dar conta do presente que se desenha em rabiscos nervosos embaixo da nossa fuça. Sem entender, veja só, que chegará o dia em que teremos que passar o presente a limpo. Revisitar a carnificina sem fim, a ode ao terror por lá que já transpõe qualquer limite que acreditávamos existir. Barreiras que insensivelmente se fecham por proteção. A terra, a casa e a alma. De fora para dentro, tentando eximir-se de qualquer responsabilidade e culpa. Não tem saída, não teve outro jeito, não queria, mas…

Sem tapar o sol com a peneira, uma das várias gerações manchadas pelo que tem de pior. Carregaremos a imagem da busca por um refúgio, da fé radical, da peregrinação diante de portas fechadas, do preconceito e do conceito bem estabelecido em uma racionalidade do salve-se quem puder. Corpos que não resistem e ficam pelo caminho. Neste instante, milhares deles. Diferentes jornadas que, por sorte, passarão longe de nossas portas bem trancadas (tomara!)… Como se não fosse possível arrombá-las.

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