Frígida da Porta para Fora

Não é que ela seja frígida, imagina! Essa característica é justamente oposta ao que julga ser o seu pior problema, defeito que teme ter de levar até o último dia de vida. Achou que poderia ser só uma fase, a descoberta do desejo, mas aquilo atravessou a adolescência e ganhou a fase adulta com ainda mais força. Só ela sabia o calor que a consumia por dentro, a vontade de ser preenchida – não por um, mas por todos que cruzavam o seu caminho. Entenda bem: ela não brincava nessas horas e quando falava em todos, queria dizer todos mesmo, sem exceção.

Foi atrás de curas, tratamentos, mas desistiu quando percebeu que não seria feliz de outro jeito. Que medicada já não era mais ela, que não sabia viver sem sua super excitação. Aquele ardor que lhe subia pelas pernas era tão dela quanto os dois olhos que enxergavam o que não devia, a respiração que sentia a presença de homens lá longe, a boca que salivava só de ser encarada e imaginar o que eles estavam tramando. Disfarçava muito bem, mas lá no fundo o desejo era tanto que encharcava sua calcinha. Acontecia com certa frequência, várias vezes ao dia e isso era delicioso!

A imaginação fértil, erótica, consumia toda a energia que tinha. De tanto viver histórias em sua mente, pouco restava para colocar em prática. Não, ela não era frígida… Apenas estava esgotada. Fisicamente não disponível por uma sobrecarga mental.  Ela era de todo mundo por mais que ninguém desconfiasse que povoava tamanha perversão.  Ela engoliria tudo, chuparia inteiro, cavalgaria gostoso. Ela faria ele perder a respiração sentando em seu rosto e rebolando sem parar.

Aquela totalidade se manifestava de olhos bem fechados e mãos espertas, ora apertando o bico de seu seio direito, ora penetrando levemente. Em casa, no trabalho. Aprendeu como se provocar dentro do ônibus, do metrô. Tudo dentro de uma aparente imagem vazia e apática. Tolinhos…

Quando não estava tão criativa, recorria a sites… Dezenas de abas abertas, vídeos reproduzidos simultaneamente, gemidos que se embolavam, se completavam, “mete gostoso, vou gozar, ai, vai, não para, quero te foder!” Uma narrativa não linear a uma mente confusa, perturbada, doentia. Uma, duas, vinte vezes se fosse necessário… Até que não restasse mais força, até que pudesse sumir com qualquer suspeita de tamanha voluptuosidade.

A sua proteção – e também o seu cárcere – era viver tudo aquilo exclusivamente para si, de dentro para dentro, sem acesso a terceiros. Ah, se eles soubessem… Teriam uma agradável surpresa com aquela moça que não, não era nem um pouco frígida.


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