Amor, o próprio e tão seu

A menina fecha os olhos e abraça o próprio corpo como se pudesse de alguma forma comprimir toda dor que sente no peito. Respira fundo e deixa o corpo ir para um lado e para o outro, de novo e de novo, sem parar.

Ela busca em seu interior alguma lembrança que seja simples, tênue e leve, mas só encontra a rispidez e agressividade dos últimos acontecimentos. Tenta inutilmente lutar contra aquelas palavras que formam frases sem sentido para um universo que até então era só pureza.

Para lá e para cá, é um corpo que se move como se seguisse lenta e arrastadamente uma melodia de sofrimento. É cortejo, o enterro da inocência, ali no silêncio de um quarto escuro. Foi com pressa, forçadamente, sem preocupar-se nem um pouco com o que ela poderia pensar, sentir e ter de carregar para o resto da vida.

Ela continua naquela dança que só ela mesmo pode entender.  É movimento que pretende tornar-se a válvula de escape dos gritos abafados por uma mão tão grande que era quase duas da dela. Pressiona os dentes uns contra os outros  até doerem os maxilares, reproduzindo o que era para ser uma mordida, mas que, sem sucesso, foi apenas autoflagelo, o disfarce que encontrou para o resto que acontecia.

O corpo machucado e a alma ferida estão conectados. Os passos soltos, para lá e para cá, de um lado ao outro liberam lágrimas que ganham o quarto, a casa, o bairro, a cidade, o mundo… Ela, a menina, anseia poder encontrar-se novamente com um amor, o próprio e que seja tão seu, onde agora é só dor e perda do prumo. Que haja justiça e ela possa voltar a ser feliz.

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