Meritocracia à brasileira

Ah, meritocracia à brasileira… Sempre uma lição importante de que não importa muito o que você entrega, desde que esteja no grupo certo, na hora apropriada e com um discurso alinhado a quem detém o poder. Estudemos o caso “Alexandre de Moraes”, o agora  ex-Ministro da (in)Justiça e provável dono da cadeira de Teori Zavascki no Supremo Tribunal Federal (STF).

Alexandre teve uma rápida ascensão na carreira política. Como não lembrar que foi presidente da antiga Febem? Incapaz de cumprir com a ressocialização dos internos dos quais era responsável e com incontáveis rebeliões nas costas, permitiu que escolarizassem, que profissionalizassem na vida bandida. Febem virou Fundação Casa dando a entender que o problema era de nomenclatura (e não de controle e incompetência administrativa).

Tornou-se então secretário municipal de Transportes da cidade de São Paulo (gestão Kassab). Dessa época, ninguém ouviu falar de um único corredor de ônibus ou mesmo de tintas Suvinil separando espaços para ciclistas. Mas veja só, foi bom demais (ou pelo menos suficiente) para uma promoção da administração da cidade para o time responsável pelo estado, assumindo a secretaria de Segurança Pública (2014 a 2015) do governador Geraldo Alckmin.

Sim, desse estado maravilhosamente calmo, tranquilo, nada violento que é São Paulo, a terra do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção que ao invés de ser enfraquecida foi ampliada extrapolando os limites paulistas de forma a dominar o tráfico de armas e drogas em nosso país. Hoje o PCC está ativo e decidindo o futuro de comunidades inteiras, presente em mais de 15 estados brasileiros!

Apesar de dados oficiais reportarem uma queda no número de furtos, assaltos, assassinatos sob sua liderança, qualquer um que já sofreu algum tipo de violência em São Paulo sabe das dificuldades em se levar à frente o registro das ocorrências. Estamos falando de  uma polícia mal educada, truculenta, burocrática e senhora dos chás de cadeira, verdadeiros testes de paciência e resistência que fazem com que muitos desistam antes de terminar a via crucis por um BO.

Alçado ao Ministério da Justiça do governo Michel Temer (de quem é amigo pessoal há mais de 20 anos) prometeu erradicar a maconha em todo o continente – como se fosse dela, e não da cocaína, o sustentáculo da criminalidade latino-americana. Acompanhou ainda o país estourar em rebeliões coordenadas por celulares de dentro de celas, com banhos de sangue e milhares de fugitivos pelas ruas.

Alexandre foi nomeado à cadeira do STF quase simultaneamente ao horror que varre as ruas do Espírito Santo, consequência direita de um país com pouco senso de justiça. E o que fez diante disso sendo ele quem é? Nada, obviamente. Afastado do cargo, preferiu a política e o lobby com senadores para garantir que tudo dê certo na sabatina à qual será submetido. Entende a prioridade? Foda-se o caos, a violência e o medo. Na meritocracia à brasileira basta subir um degrau para esquecer tudo o que está embaixo – como se não tivesse a menor responsabilidade sobre os fatos.

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