Rachel Sheherazade, Marcão do Povo e um SBT longe de ser moderno

Ser transparente é revelar o que ecoa lá dentro,  é soltar o que sente, dizer o que pensa, sem que isso pressuponha grosseria. Enquanto transparência é cuidado, atenção, zelo e respeito, a ausência de filtros, de tato, de modos e jeito é tão somente falta de educação. Dois campos opostos, misturas heterogêneas confundidas deliberadamente no calor dos acontecimentos.

É escolher a melhor maneira de expressar a alma, de tocar o externo com o interno. É corretude e exatidão com os valores e princípios de uma vida, mas com abertura para que os agentes de fora possam invadir e bagunçar um pouco os conceitos que juravam ser intocáveis. A confusão da transparência com a grosseria se deve a uma fronteira frágil entre espaços supostamente exclusivos povoados por verdades e certezas. Entender e respeitar isso requer ouvidos educados para as divergências.

Sob esse prisma, é interessante observar duas notícias envolvendo o jornalismo (!) do SBT nos últimos dias. Na primeira delas, a vociferante Rachel Sheherazade compartilhou uma montagem com fotos de vários artistas de orientação política mais voltada para a esquerda (entre eles Gregório Duvivier, Camila Pitanga, Marcos Palmeira, Leandra Leal, Bianca Comparato e Wagner Moura) chamando-os de “idiotas inúteis”.

Em outro caso estarrecedor, a emissora de Silvio Santos contratou Marcão do Povo, apresentador demitido recentemente da Record no Distrito Federal após dizer ao vivo que a cantora Ludmilla  “era pobre, macaca, pobre, mas pobre mesmo”. Daquela vez, tamanho racismo veio acompanhado ainda de uma desastrosa declaração de que “no interior do Centro-Oeste brasileiro a expressão ~macaco preto~ é uma referência a pessoas de baixo poder aquisitivo que enriqueceram“.

Existe uma clara confusão entre o que é a expressão de uma opinião polêmica (da transparência como defende suas verdades para a audiência) com o mais puro e aberto preconceito e raiva por outros seres humanos. Em uma emissora de televisão aberta, num canal que é uma concessão pública e no exercício de uma profissão que exige a mínima discrição, ética e respeito, isso é alarmante, pois reverbera em milhares de lares Brasil à fora.

Triste que o SBT – a tal tevê “mais feliz do Brasil”  e que diz estar “mais moderna a cada ano” – sustente um discurso de ódio, de separação, de supremacia e de exclusão. Que pena que alguns de seus profissionais não saibam até hoje a diferença que existe entre ser transparente e ser um “idiota inútil”, que não se reconheçam babacas. E que lástima pensar que a decisão por trás da escolha de um elenco tão miserável possa vir de um ícone da comunicação nacional.

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