Racismo não é Ironia, Sarcasmo ou Acidez

As vezes lemos certas coisas que são tão absurdas, agressivas e estúpidas que custamos acreditar verdadeiras… Mas são, infelizmente. E é triste, revoltante, preocupante pensar que um PROMOTOR DE JUSTIÇA, o senhor José Avelino Grota, justifique como “ironia”, “sarcasmo” e “acidez” o que é o mais puro e odioso preconceito racial e de classe.

Trata-se de um tipo de ser humano e de profissional vergonhoso, incapaz de enxergar falhas de caráter, de frear a índole torpe e de empregar palavras tão carregadas de preconceito num ambiente carente de ética, respeito e amor como são as redes sociais. E mais grave ainda é pensar que ele tenha sido, como diz, compreendido em sua “ironia” por outros “80 colegas do grupo”.



O post ofensivo é extenso e estruturado numa linha de raciocínio que insulta abertamente pobres, negros e babás (veja mais detalhes aqui). Nas palavras dele: “Analisei, ponderei e cheguei a algumas conclusões. Vamos a elas. Pobre, em regra, é feio; babá, em regra, é pobre; logo, babá, em regra, é feia. E negro, como todos sabem, tem o péssimo costume de não dar muita atenção à higiene – tanto do corpo quanto da roupa”.

Tudo isso para discorrer sobre o uso obrigatório de uniformes por babás em São Paulo (aquele triste episódio de 2015 no Clube Pinheiros, que teria impedido a entrada de uma babá por não estar trajando branco). Para José Avelino, “em primeiro lugar, o branco é a cor da pureza, e, ao usar roupa branca, a babá, que é feia, se transforma, ficando um pouquinho menos feia – porque pureza não combina com feiura e, assim, passamos a dar mais atenção ao puro branco da roupa do que à feiura de quem a veste. Em segundo lugar, roupa branca é a que suja com mais facilidade, e, desse modo, o patrão da babá verá mais nitidamente se a empregada está ou não limpa – e, se não estiver, ordenará imediata troca de roupa, precedida, é claro, de um banho, o que tornará a babá menos fedentina. Em terceiro lugar, roupa branca esquenta menos; portanto, a babá suará menos; por conseguinte, federá menos”… E segue nessa toada, ladeira abaixo.

Quando questionado sobre o que escreveu, justifica-se como “pardo – isto é, negro” como se isso o autorizasse ao que quer que seja.  E ainda conclui: “tenho 26 anos de Ministério Público. Ainda este mês devo ser promovido a procurador. Há quatro anos atuo perante o Tribunal de Justiça, designado na Procuradoria Criminal”, numa carteirada simbólica da perda de noção: ele mais do que ninguém, por toda experiência e responsabilidade que tem, não poderia estar envolvido em uma polêmica do tipo. Embora não se mostre arrependido, novos posts tentam explicar o inexplicável, mas ainda falta uma retratação pública, um pedido de desculpas a todos os negros, pobres e babás ofendidos.

Envie seu comentário