Las Vegas, Catalunha, a Violência e o Não-dialogo

Fomenta-se o discurso de ódio. Tiros são alvejados do alto de um prédio. O estereótipo do atirador contraria a tendência: Stephen Paddock é estadunidense, branco, sem qualquer vínculo político ou religioso associado ao extremismo. É um ataque que esbarra mais na crescente intolerância enraivecida de supremacistas brancos, do que uma jihad (religiosa).

Donald Trump continua a tratar temas políticos (internos e externos) propagando um ideal imperialista que não cola mais há uns trinta anos. Joga com as forças internacionais como se elas participassem de um reality show e que pudessem ser eliminadas com meia duzia de palavras de efeito (quase sempre depreciativas).



Como próprio incitador de um mundo instável, fala em “ato de pura maldade” quando se refere ao tiroteio de Las Vegas, mas nega o acordo climático mesmo acompanhando furacões turbinados pelo aquecimento global. Tuíta piadinhas contra o desequilibrado/caricato presidente da Coréia do Norte mesmo sabendo que isso enriquece a fantasia bélica de Kim Jong-un que, por sua vez, dispara mísseis sobre a cabeça de japoneses. Engrossa as sanções contra a Venezuela (explorando ainda assim continuamente o petróleo do país) e trata como “ridículo” o fato da Catalunha querer se separar da Espanha.

O governo espanhol também parece certo disso (tanto em conteúdo quanto na forma utilizada). Diante do referendo convocado pelo governo Catalão, abre-se uma forte e descomunal repressão policial. O sim da separação é sustentado de um lado no tripé dos “es”: é “épico” no desejo de construir uma grande nação; é “ético” no respeito aos que protestam (seja ativa ou passivamente) pelo sim ou pelo não; e é suportado na “estética” de um discurso de não-violência. Falta apenas combinar com o outro lado, que truculento, fere 844 pessoas (em teoria ainda cidadãos “espanhóis”) chegando a arrastar, PELAS ORELHAS, idosos que estavam sentados num dos locais de votação. E isso depois de alguns dias terem chorado e dado às mãos contra o ato terrorista que acelerou sobre Las Ramblas e quem lá passeava.

Não há fatos isolados quando a escolha é pela violência, e não diálogo. Transmite-se a onda de intolerância, que contamina do alto de uma decisão presidencial até chegar na porta de nossas casas, invadindo o show que era entretenimento, golpeando a liberdade da expressão.  A derrota nesse caso é do ser humano, que perde uma chance enorme de seguir em frente (de cabeça erguida com orgulho de suas ações).

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