O Dia Seguinte

Começou. A expectativa era tanta, medo e excitação em convívio não-pacífico digladiando em espaços públicos, o mundo online e offline em uníssono: Lula, um injustiçado ou sumariamente culpado? Defina o seu lado.

Ficar indiferente a mais um julgamento “histórico” de um presidente da república, o ainda/sempre/até quando popular Lula, é que não dá. A televisão só fala disso, o assunto preferido das redes sociais, do bate-papo de amigos, almoços de trabalho… Até meu cabeleireiro não resistiu a tentação de puxar a discussão, não antes de ser taxativo em sua posição: “é um safado”. Há quem discorde, pensei, mas preferi o silêncio a cair na armadilha sem fim que é  contradizer posições políticas.

Observando a divisão, eles e nós, deparo vez ou outra com comparações do tipo “Chico Buarque a favor de Lula e Alexandre Frota contra… De que lado você está?” Colada quase sempre ao discurso da esquerda, é escandalosamente preconceituosa ao usar de uma artimanha – as credenciais artísticas de um e de outro, sempre alguém muito cult e outro medíocre –  para corroborar a visão de que, incapacitados a formar nossas próprias  opiniões, precisássemos mesmo de uma referência maniqueísta para comprar a tal “verdade”.

Seja a decisão dos três desembargadores da oitava turma do TRF-4 conhecida no dia seguinte por “golpe”, “justiça”, “artimanha” ou “impedimento” sobrará um país ainda mais dividido em suas certezas. Mas e daí? O que fica a partir disso?

Ainda que necessária, por mais que precisemos passar por tudo que temos passado, quem ainda, em sã consciência – e não entorpecido pelo sentimento de pertencimento dentro de um quase rompante civil -, aguenta a Lava Jato e demais operações da PF, os escândalos de corrupção, o que dizem os citados, as prisões, os habeas corpus concedidos por Gilmar Mendes e julgamentos com todos os recursos cabíveis? Escalonando todas instâncias possíveis antes da culpa ou inocência, ambas refutadas por um ou outro lado. A história sem fim e velha conhecida de não desistir nunca.

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