Que tiro foi esse?

Pioramos no tempo que vai sem volta, nas vidas perdidas para sempre, nas histórias que não podem ser recontadas. Vive-se num presente urgente e que se desintegra em notícias absurdas. A violência engole o paraíso, desconstrói o perfil festejado e rouba o futuro de gerações.

Atrás do trio, do bloquinho que de tão grande virou micareta, animais aprisionados em uma rotina dura, dentro de um ambiente tenso… São carnavais sem amanhãs em que vence o instinto: a fome de diversão, o tesão acumulado a ponto de bala, uma bexiga cheia de cerveja esvaziada em qualquer esquina, a pele suada esfregando hormônios aflorados e o batuque do tambor que bate lá fundo. Relaxa e goza… E não importa que estejam filmando tudo! É de lavar a alma e exorcizar o ano que passou, um hiato necessário, um pequeno respiro antes de seguir em frente.

Quisera voltássemos a sorrir (como só a embriaguez tem permitido), a acreditar que as coisas darão certo e que o tempo difícil ficou para trás. Iludir com a esperança de tempos melhores que não chegam, de podermos dar um reboot nessa sociedade afundada no buraco que cavou para si mesma.

Antes que a festa termine, um novo estalo de tambor atravessa a música, afasta a multidão. Que tiro foi esse? É hit brasileiro, meme, mais um a cair num país que aprendeu a festejar a própria desgraça. E que ninguém duvide se muito em breve, depois de deixarmos celulares e carteiras em casa, incorporarmos coletes a prova de bala como parte dessa torpe fantasia nacional.

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