O Casal

Já é quase verão e as chuvas caem sem aviso. É pé d’água, é aguaceiro, é um céu inteiro despencando sobre nossas cabeças. Surgem guarda-chuvas e corpos que se espremem sob marquises; dentre tantos, o dele e o dela aquecidos pelo calor de quem, de repente, se vê alheio a todo o pandemônio instaurado. Dois desconhecidos que se querem instantaneamente, atraídos instintivamente por algo difícil de explicar.

As roupas molhadas coladas a corpos que de tão juntos parecem um só. Corações palpitando em ritmos não coordenados e a certeza de que o mau tempo agora é um aliado… Que a chuva demore a passar! Bendita tempestade que delineia tamanha exuberância:  ela enxerga o fogo que arde dentro daquele olhar; e ele vê dentro dos olhos dela, um último brilho de sol que faz surgir um pequeno arco-íris.

É fagulha em campo de centeio, são pequenos choques em todo o corpo, é a correnteza de quem experimenta ser levado por algo muito mais forte do que é capaz de controlar. Debaixo da chuva, no meio da rua e sem aviso. É um mundo inteiro abrindo-se sob aqueles pés, sem que eles ainda entendam que, das coisas da vida, acabam por cair de amores pelo “inimigo”.

Sim, camadas abaixo, ainda que não declarado, toda aquela química se estabelece entre um coxinha e uma petralha que se odeiam nas redes sociais. Por não usarem fotos em seus perfis no Facebook, não desconfiam que bem ali está a pessoa mais detestável do mundo, que é também dona do melhor beijo do universo. Os opostos não só se atraem, mas se mostram assim mais uma vez complementares. Ainda que não tenham se dado conta disso, terão que escolher se mais tesão ou mais tensão.

Envie seu comentário