Relações Ecológicas

Era uma vez um urubu e uma mulher. A mulher acostumou-se a desperdícios permitindo um verdadeiro banquete para a ave, que não perdeu tempo e se aproveitou de tudo, não deixando passar nem mesmo as migalhas. Esperto, soube observar o momento de atacar o que se tornava lixo e fez daquilo a sua existência, a energia motora, o sinônimo de sua força. Já faz um tempo que eles, urubu e mulher, coexistiam sem se prejudicarem.

Das evoluções não óbvias, mas meticulosamente calculadas, urubu tornou-se verme passando a viver no corpo da mulher, de onde retirava seu alimento sem muito alarde. Não demorou para a hospedeira desenvolver doenças, não só provocada por um, mas por um vérmina de outros parasitas. Eles foram os responsáveis por deixá-la cada vez mais mal nutrida, com pouco peso até se atrofiar em suas mazelas. Foi um tempo sem volta.

Darwin se espantaria com as mutações que se sucederam a partir de então. A mulher, que de tão apática e sem forças, virou uma planta. Os vermes transformados em poderosos pulgões alimentando-se de uma seiva rica em açúcares vermelhos (os grandes demônios brasileiros). Toda uma cadeia estabelecida a partir de um veneno absorvido e eliminado que, com a ajuda de um exército de formigas ávidas por mais “sangue”, enfraqueceram a raiz, a base que sustentava, daquela planta. Pulgões e formigas juntos, unidos, destruindo a olhos nus o pouco que ainda restava.

Urubu que virou verme, que passou a pulgão até chegar ao dia de ontem. Empertigado, o agora novo gafanhoto deu talvez o maior de seus saltos orquestrando comparsas em um ataque certeiro e mortal à mulher, que já era uma planta e que tornou-se nada.

Há quem diga que gafanhotos são importantes para o equilíbrio de todo o ecossistema. Parte de um jogo necessário ou os fins que justificam todo o meio. Tem também quem ache a praga o grande inimigo a ser combatido. Cada um analisando um lado, o seu, em uma cadeia complexa e indivisível. Somos parte do todo.

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