Senta que lá vem DR

Precisamos falar da gente, discutir a relação (todas elas!) e estressar os sentimentos até que reste apenas um a ser observado. Que seja admiração ou amor ou compaixão ou simplesmente desejo… que seja respeito.

Vamos levar tudo às últimas consequências; falar e ouvir de peito aberto, sem ressalvas, para enfim entender que abaixo das inúmeras camadas de convivência, da rotina; escondido entre  mal entendidos e feridas não cicatrizadas, entre impressões erradas; no meio daquele pedido de desculpas não cumprido ou de perdões forjados, existe uma chama acesa capaz de incendiar campos inteiros de terras inférteis. “Eu te amo”, “eu te admiro”, “eu te desejo”, “eu te respeito” é fogo que traz vida a almas perdidas.

Camada a camada, que não seja rancor, inveja, ódio,  dependência ou posse… que não desrespeitemos nossa própria essência imputando sobre o outro uma obrigação que não lhe compete. Que não esperemos um pagamento à altura de um preço incalculável, que não estabeleçamos uma dívida impagável por algo tão autoral que é a relação de duas pessoas.

Não vamos nos tratar como mercadorias produzidas em uma linha de montagem. O coração não é só uma peça poética na engrenagem do afeto; o sangue que corre em nossas veias – e nos torna explosivos, passionais e as vezes frios e propensos a riscos – não é apenas óleo lubrificante de uma vida cheia de altos e baixos; e o nosso motor vai muito além do saber reagir ao coice de cavalos, potentes para nos jogar no fundo do poço, mas que também são os grandes responsáveis por nos tornar mais fortes.

Ninguém é obrigado a nada, nem mesmo a admirar, amar ou desejar de volta. Podemos ser caprichosos, chatos e repulsivos demais com quem nos quer bem. Mas respeitar a história que está do outro lado, aquela que conhecemos muito pouco (até entre os mais cúmplices), é abrir espaço para uma relação plural, honesta e sem consentimentos indesejados. É não precisar ceder com dor ou anulando a si próprio. É conviver com a diferença de forma natural e sem precisar revirar os olhos, o estômago ou aquela gaveta outrora trancada em desculpas.

Precisamos falar da gente, discutir a relação e estressar os sentimentos porque somos maiores e melhores do que um momento, uma conjuntura, uma reação, uma posição e uma opinião. O mundo precisa de uma gigantesca DR até que reste apenas um forte sentimento de compaixão, até que haja respeito pelo próximo e nada mais.

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