Um ano no banco dos réus

A história há de ser justa e dar a 2016 o lugar que merece. Colocado no banco dos réus, julgado em suas mazelas, acusado em todos aqueles momentos que preferimos retroceder não por considerarmos isso uma jogada estratégica, aquela necessária para nos lançar dez passos à frente, mas pelo simples desinteresse por quem nos cerca, por toda a apatia diante das dores dos mundo, pelo esquecimento do coletivo.

Retrocedemos fechados em certezas totalmente questionáveis, em valores centrados em nosso próprio umbigo, na seletividade em relação ao que nos fez sofrer, compadecer, mover. Entramos em campanhas por euforia, por puro oba oba, sem que de fato tenhamos nos colocado no lugar do outro. Choramos porque era preciso, porque todos assim o faziam, para no dia seguinte esquecer de outros tantos que também mereciam a nossa compaixão. #ForçaAlepo!

Do que adianta tanta hashtag, tanto ódio dilacerado, tanta animosidade, se fecharemos o ano com menos amigos, menos liberdade, menos esperança e milhares de vidas perdidas mundo à fora? Que forma é essa de contar o avanço, a vitória, com tantas histórias encerradas em meio a escombros e posts de misericórdia? Como conseguimos orar por alguns e nos silenciar diante de vozes de crianças brutalmente silenciadas?

Para virar 2016 e entrar em 2017 diferentes, será preciso que tenhamos mais do que resiliência, e que coloquemos à prova a nossa resistência buscando mais do que um endosso, o like/curtir/gostar, perdido numa linha do tempo pessoal. É preciso elevar a voz, levantar da cadeira e ser parte deste capítulo triste que atravessamos… Será necessário estourar a bolha, buscar por todos os incômodos e, de peito aberto, encarar o que nos causa repulsa, medo e incompreensão. É urgente cutucar as feridas, saber exatamente a dimensão das dores, para que possamos ter alguma chance de cicatrizá-las… pelo bem da timeline da humanidade.

O passo já foi dado para trás. Andamos em marcha-ré, voltamos e perdemos como há muito tempo não víamos. Chega! Agora, mais do que nunca, é hora de colocar a cabeça no lugar e retomar o controle de nossas vidas. Entramos no caos unidos e só sairemos dele se, verdadeiramente, aprendermos a crescer nas diferenças. Quem foi que disse que a soma só vem na semelhança?

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