Um péssimo momento para ser jornalista

Não é um bom momento para bater no peito e dizer com orgulho, “sou jornalista”. A média de idade dentro das redações está cada vez mais baixa, e com um time júnior, inexperiente e sem a malícia que a interpretação das notícias atuais exige, podemos explicar facilmente a pouca profundidade das análises e o baixo teor crítico dos textos. Reportagens superficiais, cada vez menos interesse do público, baixa tiragem, redução de salários, demissões.

É jornalista que não tem dinheiro para pagar o transporte e se locomover na cidade. Como então apurar os fatos sem vivenciá-los de perto? Sem ter contato com as fontes? Sem experimentar a excitação diante do que se observa? A nova geração, aquela que vem sendo escolhida frente aos grandes nomes, mostra a que veio e faz o que pode com total domínio do Twitter, Google,  Internet.  E mais uma vez as redações são traídas pela inexperiência de quem acha que sabe tudo. Mais textos sem a necessária apuração, mais informações falsas (barrigas!), mais descrédito do veículo, menos venda ou acesso, demissões (repetidas vezes demissões).

No cenário estabelecido, “salve-se quem puder”, é bom mesmo garantir que o que pinga não faltará. E quem não é bobo, quem faz a leitura correta do que tem, obedece aos direcionamentos e “trai” sem qualquer objeção ao juramento de ser leal aos fatos ou o mais imparcial possível. A ética sobe no telhado quando o assunto é arroz com feijão na mesa.

Desesperados e com a difícil missão de salvar os seus empregos,  obedecem às cegas a direcionamentos escusos. Não percebem que mentira tem perna curta, que em tempos de multi-plataformas o questionamento aos interesses escondidos nas entrelinhas  poderá corroborar ainda mais para a falência do exercício da função. Ou vocês ainda não se deram conta de quantas revistas e jornais pararam de circular nos últimos anos? De quantos jornalistas viraram blogueiros?

Sim, o jornalismo está fechando as portas e a culpa, mea culpa, é que não estamos fazendo absolutamente nada para conter a debandada do que tínhamos de bom. Com tanta informação ruim, com tanto despreparo e falta de amor ao ofício, criamos uma audiência incapaz de perceber a importância que tem uma imprensa bem estabelecida. Pelo nosso bem, não, não podemos deixar o jornalismo morrer.

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1 comentário em “Um péssimo momento para ser jornalista

  • Parabéns pelo seu dia meu Jornalista preferido. Com seus artigos sérios e bem escritos você faz a diferença. Eu me sinto bem informada quando os leio. Nunca deixe de escrever, esse é o seu dom. Beijão

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