UTI

Desta história toda que estamos vivendo vai ficar uma lição dura para todos: não somos aquele povo tão festivo, alegre e boa praça que julgávamos. Temos um lado ruim, egoísta, que nem o Carnaval, a Copa ou uma Olimpíada são capazes de camuflar.

A miséria humana saiu dos guetos escuros enevoados pela fumaça que sai do cachimbo, das favelas de esgoto a céu aberto, do semi-árido nordestino esfomeado preparando sopa de barro para ganhar as principais ruas do país, os meios de comunicação de massa e as novas ferramentas de compartilhamento de ideias. Subvertemos a lógica a qual estávamos acostumados. Nós, e não “eles”, somos o problema; a razão do caos; o sujo e o mal lavado.

Vociferamos as mazelas experimentando ouvi-las ecoando em outras vozes até tomarem proporções difíceis de prever. Qual o futuro do Brasil? Quem é que pode responder? Não, você não dá conta de saber nem o futuro de sua vida, caro compatriota.

As reclamações nos pertencem. Do micro ao macro – da colega de baia, do chefe, da empresa, do vizinho, da rua, do bairro, da cidade, do estado, do país, do planeta – tudo está degringolando! Porrada atrás de porrada, músculos anestesiados pela avalanche dos acontecimentos. Não sentimos a dor como deveria, mas falamos dela como se coubesse a nós o diagnóstico preciso da enfermidade. Cuidados paliativos para uma sociedade terminal. O veneno, não a vacina, para um país há tempos na UTI. Estamos matando todo o estereótipo que carregávamos enquanto brasileiros.

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