Cinza triste e a não-gentileza

Existe um sopro de esperança, gentileza que gera gentileza na terra do mais amor, por favor. É preciso ver a cidade, mas que seja com veracidade de emoções.

Só que a manhã amanhece cinza. Buzinas impacientes urgem vidas apressadas. A moça ignora a cordialidade do aviso de atenção ao atravessar a faixa de pedestres e o motorista acelera como se ruas fossem pistas de boliche. Corra, menina, corra. Já do outro lado da rua, ela esquece que tem do quê agradecer. Muito obrigado, por nada, onde é só cara feia e mau humor.

Vindo de trás, a moto corta pela esquerda, ultrapassa pela direita no zigue-zague de uma vida expressa. A contramão é rota para ganho de tempo, a esperteza fora do sentido de ordem. São segundos a menos que podem significar anos a menos de qualquer um dos tantos desatentos.

Animais de estimação transformam calçadas em minas terrestres. Os celulares nas mãos e os olhos vidrados impedem de ver quem vem à frente, que ou desvia ou esbarra, tromba ou pisa na mina. Que merda! Tem também aquela moto, cuidado.

O ônibus entra com tudo; está muito rápido, seu motorista! Ele pisa ainda mais fundo para provar que quem decide a velocidade dos batimentos cardíacos ali, é ele. Vou descer, é o ponto e o sinal de parada ignorados na urgência de provar-se deus. Ou demônio.

A fórmula está errada, a lógica mal empregada, a frase sem sentido, o resultado um desastre. Aviso ignorado. É triangulação, fofoca e reclamação nos post-it de profissionais vazios ganhando pão em mesas de frustrações.

Existe um sopro de esperança, mas como é difícil esperar gentileza em mais um dia cinza e molhado na terra do não-amor. Nessas horas, aos que esperam veracidade de afeto, é preciso ver além da cidade embrutecida pelo concreto (de um também desanimado cinza triste).

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