Emoção Artificial

A inteligência artificial ganha espaço na terra onde aquela outra, a emocional, perde terreno. Instáveis, queremos que as máquinas processem rapidamente o que os olhos veem e também o que o coração sente. E se puder sugerir respostas para o que não está visível, aparente ou para todas aquelas sutilezas presas nas entrelinhas, melhor, mais fácil.

Se possível, que mostrem o caminho a tomar, a escolha ideal, a opção com menos chance de erro; que aplicativos bloqueiem e afastem para sempre quem não nos faz bem e que sugira novos amigos tão voláteis e superficiais, indo como vêm. Que facilite o encontro, a combinação perfeita, no perímetro mais próximo. Match! Que exclua sem inibição. Que monitore daquilo que se come a como se dorme; que sugira livros, filmes, músicas que são a nossa cara, e tirem o prazer de todas as descobertas inesperadas que tanto eletrizam num primeiro impacto.

Novos homens e mulheres sendo ultrapassados por novas versões ainda mais acomodadas, muito mais mimadas e cada vez mais mal acostumadas a terem tudo ao alcance de um ego infladíssimo. Esperando que soluções caiam de bandeja no colo, que soe um alerta, que vibre notificando a hora de acordar para vida, de reagir, de tomar partido e de fugir… Quando e como sair de casa, sem maiores imprevistos. Acovardados e fugindo de responsabilidades, com um crescente medo pelo "não", esse item que desaparece cada vez mais das prateleiras.

A zona do tudo pode, customizada a interesses tão específicos e restritivos, tagueada com definições que facilitam a vida dos que não têm tempo a perder. Preguiçosos antigamente, apressados para os dias de hoje. Marca-se o que não pode esquecer, e dá-lhe mais lembretes, pushs, alertas para mentes desatentas desaprendendo o que são e para que servem.

A memória mais seletiva ao que ronda o próprio umbigo. Basta um clique para aceitar, concordar, e deixar que as coisas aconteçam por si só, mas de acordo com um algoritmo que é viciado em bajular esta autoestima pouco crítica. Quem perde com isso é quem deixa de estar à frente, no controle, para ficar dominado e refém de uma artificialidade que é tão prática quanto pouco estimulante ao nosso sistema límbico.

A correlação do sucesso, da predominância e do avanço da inteligência artificial sobre as nossas vidas (de forma consentida ao não) com a decadência, a falência e a iminente morte da inteligência emocional (entendida sobre os parâmetros atuais)  não parece ser um mero acaso ou uma 'forçação' de barra. Estaríamos nos apaixonando por nossas ferramentas, amando cada vez mais os nossos gadgets, enquanto passo a passo nos distanciamos uns dos outros? Desacostumados a desligar, talvez estejamos esperando que surja um aplicativo que ofereça respostas.

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