Inseparáveis

Fecha a cara, tranca a porta, suba um muro e coloque cerca elétrica, cão de guarda, câmeras de vigilância, sensores de movimento… e o que mais for necessário para criar a ilha de segurança, a bolha que te tira do entorno, que protege esse ser único e especial.

Criem guaritas, escrevam leis rígidas, arredias, construam um ambiente pouco amistoso, uma sociedade nada receptiva e incentivem comportamentos bairristas. Sejam melhores que eles: mais sofisticados, educados, politizados e instruídos. E lembrem-se de ridicularizar a vontade as excentricidades alheias. As cidades se tornam guetos de seres humanos menores que a vizinhança. O interior que não acompanha as capitais, o campo que não fala a mesma língua das cidades litorâneas. A geografia que explica a mediocridade de um pleito eleitoral. A culpa é deles.

Enrijecem as exigências alfandegárias, estabelecem barreiras,  proíbem a entrada e a saída, a permanência. A terra e seus donos com seus mandos. Nacionalismo exacerbado no cultivo do amor a uma bandeira. Fechem as fronteiras! Matar e morrer por um símbolo… Detalhando melhor: matar OUTRAS PESSOAS e perder a PRÓPRIA VIDA, por um pedaço de tecido. Honra e patriotismo.

Vamos nos fechando e isso é o esperado. Da feição que muda quando ouvimos algo que não queremos chegando a muralhas intransponíveis. Tentamos provar que somos melhores isolados, encurralados, trancados entre pares. Preferimos o conforto da família, do grupo de amigos, de conterrâneos que compartilham do mesmo medo. Queremos que o desenvolvimento venha para nossa cidade e região – mesmo que isso implique na saída de empresas de outros lugares deixando-os na pior. Salvamos o nosso e mentimos quando dizemos importar com o que não nos afeta.

Acreditamos num estado-nação forte, independente, participamos de blocos econômicos (desde que esse nos favoreça). Compramos e nos iludimos com a ideia de que o Planeta Terra e a humanidade precisam ser preservados, mas nos recusamos a deixar os confortos de uma vida moderna. Pode voltar algumas casas: lá no fundo, o que importa mesmo é o umbigo, esse centro tão preso a você. O resto fica pra depois.

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