Retrospectiva 2018

É com cuidado que tento separar os fatos das emoções primárias, elas, que, ao longo deste ano, geraram em mim perplexidade, ansiedade, raiva, tristeza e desespero em intensidades inéditas. O fim de uma linha está no começo de outra… O buraco é mais embaixo e, conscientemente, podemos sim escolher afundar mais.  Apertem os cintos.

Um ano de Copa do Mundo, de Eleições e muitos feriados. No meio de tantos embates, quedas dramatizadas com exagero a ponto de se tornarem piada mundial. Só que certos tropeços doeram. 2018 entrará para a história com um assassinato simbólico entre os milhares que nos assustam todos os dias: Marielle presente, um conceito na ausência. A emboscada que queria silenciar não uma, mas várias vozes. A mulher, negra, pobre e ativista, o rosto estampado como símbolo da falência de nossas instituições. Não foi casual, como não parece ser trivial ainda hoje não termos respostas. Quem matou Marielle?

Assistimos também a morte da cultura. Era fogo que poderia, mas não foi purificação ou renascimento. É sim mais um produto do descaso de gestões corruptas e que pouco a pouco são reveladas. A conta altíssima paga no dia a dia de uma população em meio a um outro fogo, o cruzado. Do Museu Nacional que conhecíamos ficam as paredes e um recomeço no garimpo de cinzas. Pobre Luzia! Basta uma faísca para que tudo venha ao chão. Um prédio ocupado no abandono à própria sorte. Mais um descaso, esse anunciado. Quantos mais? Ninguém solta a mão de ninguém. Soltou e quando ia ser resgatado. 

2018 acentuou os dois ícones de um (velho e conhecido) populismo. Quem salvará a pátria de nós mesmos? A multidão que carrega nos braços o peso de uma ideia, a figura de um mito. De um lado, Lula livre a caminho da prisão após ensaios midiáticos e acenos com a militância. Do outro, um capitão errante, improvável, atingido por uma faca. A “prisão” a uma cama de hospital e uma disputa eleitoral com debates desfalcados. Quem agride mais? Quem mente melhor? Quem movimenta mais o ódio e é capaz de capitalizar com isso? O discurso violento, verborrágico, inflamado em redes sociais é a nova grande mídia, a arma da vez.

Na linha de chegada, ele não, ele não… ele sim. É melhor já irmos nos acostumando! Bolsonaro presidente do Brasil marca também a vitória do anti-petismo, dos evangélicos, da pós-verdade, das fake news. Aqui e lá. Um Trump que briga com aliados, com serviços de inteligência e com a imprensa da democracia mais poderosa do mundo, aperta a mão de inimigos históricos; Macron é emparedado pela fúria dos coletes amarelos; cada vez mais fraca, Theresa May prepara o barco que tirará o Reino Unido da União Europeia. Será mesmo? Na Coreia do Sul, ex-presidente é condenada a mais de 24 anos de prisão. Por aqui, 12.


Um tsunami. E são também as lágrimas por todas as despedidas de uma vida que segue o seu curso natural, o de vir para partir. Carlos Heitor Cony, Tônia Carreiro, Setephen Hawking, Done Ivone Lara, Aretha Franklin , Kofi Annan, Otávio Frias Filho, Beatriz Segall, Ângela Maria, Zibia Gasparetto e Stan Lee para falar de alguns. E antes que pensem que se trata do fim, eles não pararam por não serem mais humanos… Eles são todos uma ideia, uma ideia misturada com a de todos nós. A morte de um combatente, definitivamente, não para a revolução.

Que venha 2019!

Envie seu comentário