O fogo que nos consome

Por tudo que estamos vivendo, não faço juízo de valor dos que são cúmplices da sandice instaurada. É preciso olhar além do revanchismo de repetir a cada nova declaração desastrosa de Bolsonaro que você sabia, que você disse, e que ele, ela, não quiseram te ouvir, e que, por isso, acha bem feito e muito merecido.

Não é por aí. A situação vira oposição e é natural que o grito troque de lado, que a defesa cega e sem a menor autocrítica passe de um extremo ao outro. As panelas que eram símbolo de golpistas, elitistas, fascistas, passam a ferramenta para reverberar a ação, a reação, de quem antes as criticavam. Parte do jogo. E que mal há nisso? Panela lá tem dono?

Sou a favor de que a esquerda recupere símbolos abandonados para uma direita que soube aproveitar deles para criar novos significados. E que re-signifiquem tudo novamente. Que a camisa verde e amarela volte a ser coisa de todo mundo, sem precisar identificar um pensamento político, uma visão de mundo. Item fashion da luta, que tal? Que patriotismo não seja divisão. Que família não seja associada a atraso, ao não reconhecimento da base de tudo… o amor! Que a fé parta da (boa) relação entre homens para só então chegar ao sobrenatural.

Sou favorável a uma direita que entende o direito que a esquerda também tem a esses e outros signos. Que saiba que o jogo democrático presume lados antagônicos medindo forças, mas dialogando na construção de novas práticas que nos beneficiem. Que não tenha problemas em reconhecer os problemas óbvios da atual gestão e que ajude a cobrar posições moderadas, inclusivas e progressistas.

A Amazônia é um símbolo nacional. Ela não é (e nunca foi) da direita ou da esquerda… Ela é nossa! E não é porque em ONGs têm um montão de gente de esquerda, que elas possam ser acusadas de praticarem o oposto do que fazem, que é defender o que governo nenhum conseguiu até hoje: a soberania de índios, outros animais e plantas diante de grileiros, pecuaristas ilegais, garimpeiros e traficantes da biodiversidade de nossas florestas. E quem sabe não seja ela mesma, a Amazônia, a sua destruição, o estopim que faltava para a reconciliação do nosso povo? E se esquecêssemos as diferenças e apagássemos de uma vez por todas o fogo que nos consome? Eu já peguei o extintor, e você?

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