Alice conferiu mais uma vez o celular na esperança de, por alguma razão, não ter sentido ele vibrar. Repetia isso a cada minuto, mas nenhuma ligação perdida ou mensagem nova. Na falta de novidades, releu a última conversa que teve com ele no Whatsapp tentando controlar as lágrimas que insistiam em cair manchando toda a maquiagem. Estava com cara de ontem, e iria piorar.
Então seria desse jeito? Sem nem uma dose de consideração, um pingo de compaixão? Ela já devia estar descolada nestes assuntos. Homens. Safados. Paulistanos. Egocêntricos. Arrogantes. Não era mais uma menininha inexperiente nas mãos de canalhas e por mais que tivesse consciência da sua parcela de culpa, a tal pedra de gelo que carregava no peito, perguntava a si mesmo quem estava sendo frio e insensível agora. Não era ela, com certeza. Aonde estava a coragem que ele dizia ter? “Duvido que mantivesse a palavra olhando dentro dos meus olhos, sentindo o calor da minha respiração“, tentava se convencer.
Levou a moeda até a jukebox sentindo o peso dos olhares que acompanhavam aquele movimento. Conseguiu distinguir algumas palavras vindo de outras mesas: “Não é possível”… Risadas… “O que essa mulher está pensando?”… “Desliga a máquina, garçom”… Mais risadas… “Ela deve ser louca”… Talvez, considerou perguntando para si mesma, “porque homens eram capazes de nos deixarem loucas?” . Apertou o play pela quinta vez.
https://soundcloud.com/radioopenbaroficial/maiara-e-maraisa-10-por-cento-10
Esvaziou o copo tentando esvaziar o coração, que estava cheio e pesado com tantos sentimentos contraditórios. Aquilo afinal era “amor”, agora claro e incontestável, ou “ódio”, pelo orgulho ferido de ter sido ele e não ela a colocar o ponto final na história dos dois? Sem uma resposta óbvia recorreu ao que tinha ao seu alcance:
– Mais uma Caipirinha de Saquê de Kiwi, por favor!
Sim, caipirinha de saquê. De K-I-W-I. A forma dela de chorar as pitangas na mesa de um bar. Como se fosse adiantar… A gorjeta seria gorda aquela noite, do tamanho da paciência de todos que acompanhavam a cena.
