Aceitação

Eu entendo que você me odeie, mesmo ainda sem me conhecer. Eu reconheço a sua provável dificuldade em me ver com a normalidade que há em ti, com a mesma urgência de ser feliz. Pode não parecer, mas compartilho de muitas preocupações suas.

Veja só, também sou de carne e osso, pode tocar! E aqui dentro ó, corre um sangue que as vezes ferve e me faz perder a cabeça. Quem nunca, não é verdade? Que bom que você me entende nesse ponto.

A verdade é que durmo desejando, antes de mais nada, acordar bem e disposto para dar conta de tudo o que o amanhã me reserva. Imagino que com você não seja diferente.  Não quero falar das noites em que é difícil pegar no sono  pelo tanto de coisa que fica matutando lá dentro ou aquelas outras em que tenho pesadelos tão reais quanto as tristes cenas que vi no noticiário ou sobre a ansiedade por algo que pode acontecer…  Não quero pensar nisso!

O dia as vezes voa e em outras ocasiões demooooora a passar… Já quis que chegasse logo a hora de ir para casa só para poder esquecer tudo o que ouvi e, em outras tantas situações, desejei que as 24 horas se tornassem 30, 40, tamanha a felicidade que me invadia. Mas a vida não é elástica como deveria, e a gente acaba tendo que encaixar as nossas alegrias e tristezas dentro do mesmo espaço de tempo.

Você tem problema e eu também tenho. Não vamos disputar quais são maiores e mais graves. São diferentes, claro, mas todos eles nos farão solidificar princípios e valores.

Uma coisa que talvez você nunca tenha considerado, é como a gente – “essa” gente – fica com o coração na mão quando percebe que é “diferente” e que não é como a “maioria”.

Até a gente tomar consciência de que não é “errado”, que podemos ser racionais, emotivos e ainda sim verdadeiros com nossas vontades mais instintivas, demora e angustia e entristece e inferioriza e deprime. Até ter coragem de ser o que é, a gente – “nossa” gente, veja só – sofre, chora, imagina o pior. E tudo por quê? Para ter a sua aprovação e aceitação, o seu entendimento. Até ter a ousadia de falar, de não precisar esconder e fingir ser o que não é.  Está vendo? Não é tudo festa, oba oba, putaria e promiscuidade. Tem aceitação, autoconhecimento, empoderamento e muita força para romper com conceitos, a aprender a remar contra a maré.

Então eu entendo que você não me entenda, porque precisaria passar pelo que eu passei para sentir na pele que não é modinha ou algo que possa ou que eu queira mudar. Você pode não entender que eu goste de ser como sou, mas ficaria ainda mais chocado se soubesse que caso pudesse escolher, não mudaria absolutamente nada em mim. Esse é o meu normal, a forma como eu me entendo por gente, o meu estar vivo, em paz e feliz comigo mesmo e com os outros.

É dessa forma que até espero que não me entenda nunca, mas torço para que chegue logo o dia em que aceite o fato de sermos diferentes. Vai ser tudo tão mais fácil e colorido sem o seu insulto, soco, tiros e desejo de me ver morto.  Quando você conseguir romper a sua bolha e perceber que não somos tão diferentes assim.

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