Bicho Motorista

De longe vem uma buzina, dois toques de impaciência, que acabam com o ritmo dos frequentadores do parque. A insistência se faz ouvir, primeiro entre risadas e gritos de criança, que correm felizes, depois solitária como se o mundo parasse para dar uma atenção, que não pretendia ser coletiva. Mas o motorista persiste em achar que a pressa dele é de todos… E buzina mais uma vez. Que o mundo pare na sua urgência!
 
Outro motorista dentro de um trânsito provocado por uma chuva anunciada, jamais acostumada. A cidade não está preparada para isso. Além das filas de carros, poças formadas por bueiros entupidos, semáforos quebrados, pontos de ônibus lotados de pessoas com seus guarda-chuvas abertos canalizando bicas de água que caem sobre outras pessoas.
 
É a lei da sobrevivência, cada um por si, o estresse em todos. Um carro que tenta levar vantagem e utiliza o pouco espaço no acostamento para tentar avançar 30 metros, que desconsidera a poça e levanta uma cachoeira sobre o povo que se acotovela para ganhar uma posição favorável no ônibus que ainda nem desponta lá longe.
 
Sobrou até para quem atravessava na faixa de pedestres e que quase foi atingido pelo carro que atravessou o sinal vermelho; tanta pressa para parar num outro que estava fechado a menos de 50 metros dali. É tanta irracionalidade no volante, que dá para desconfiar que na tal selva de pedra, entre tantos animais, já temos bem definido o predador que mais ameaça.
 
Bicho motorista que parece não ser humano. É por essas e por outras que eu AMO toda e qualquer medida que intensifique a fiscalização no trânsito e que endureça o cabresto para controlar a marcha de quem só pensa em “acelerar”.

 

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