Os oito passos da loucura de Lucinéia (e o que temos com isso)

1) A elevação do tom de voz de todos à mesa;
2) A mãe, “que pariu”, que acha que por isso tem mais direito que o pai;
3) O deboche do homem frente ao desequilíbrio da mulher;
4) O vocabulário do pai (trollagem, trollando, “calma velho”, “é zoeira”).
5) Me dá o celular é o novo “Você está de castigo”;
6) A ameaça de quebrar a mesa na cabeça caso a menina não desse o celular;
7) Faca, destempero, loucura, gritos. “Eu mato ela, Marcelo”. Onde ela é a filha, e a causa da “besteira” seria a recusa em dar o celular.

e o pior…

8) Tudo filmado pela própria família que não poupou a exposição da mãe, publicando/compartilhando o surto nas redes sociais.

 

E a gente aqui, assistindo tudo tomando um gole de café, entre a descrença, o gracejo ou o horror e o julgamento. Mais um “meme” fundado na miséria humana pautando nossas discussões e não nos levando a lugar algum. Precisamos virar a câmera, mirá-la em nossa direção, buscando as reações sem poupar a acidez da crítica, o suposto senso ético exacerbado ou o humor de mau gosto. Em Minas definimos bem esse comportamento como “espírito de porco”. E no caso Lucinéia, #SomosTodosEspíritoDePorco… Lucinéia, Marcelo, filhas, eu e você.

[Atualização 11:17] E sobre a  discussão da sexualidade (“lesbofobia), penso estar totalmente em segundo plano. Não dá para esperarmos que a mãe entenda algo fora do esperado para sua filha com a tranquilidade que nós teríamos. Sair do armário é uma conversa muito mais complexa do que se possa imaginar! E se fossemos partir desse pressuposto, a própria “trollagem” em cima do tema sexualidade já pressupõe um preconceito por parte de quem idealizou o vídeo ou por achar que ser lésbica é uma “brincadeira” ou por presumir a reação da mãe diante da descoberta.

Eu, de verdade, não consigo julgar se Lucinéia ficou mais louca pelo desdém das filhas e do marido, se pelo fato de uma das meninas dizer-se homossexual ou por não ter seu desejo atendido (a negação em dar o celular).

Volto a dizer que, na minha opinião, o ponto principal aqui é a exposição da mãe e de toda a família. E como todos somos fascinados por discutir a miséria alheia.

[Atualização 20:00] De acordo com notícia publicada agora há pouco pela edição online do jornal Extra, Marcelo – o pai, um dos protagonistas do vídeo – teria afirmado que tudo não passou de uma encenação. Ainda que dado o benefício da dúvida e acreditando que se trata de uma família de atores, mantenho meu pensamento de que tamanha necessidade exposição (negativa) precisa ser discutida e trabalhada em sessões de terapia com a participação de todos eles. Terreno complicado esse de representarmos a nós mesmos em situações vexatórias.

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