Ele com Ele

Ele com ele falam em “nós” como se o início de um desse no fim do outro, sem espaço para pausas, reticências ou interrogações. Tinham descoberto que sendo sujeito composto, saíam de simples protagonistas de uma ação para dividi-la com alguém mais do que perfeito.

E quando alguém dizia que todo mundo tem nem que seja um  traço imperfeito, que tinham que considerar os defeitos, exclamações calorosas, interjeições  de impaciência… Pulavam de linha.

Na relação sobrava hipérbole para descrever o que sentiam. Que morriam de saudade e que pareciam estar juntos há séculos… Que era tanto amor que não cabia num universo inteiro, mas que se encaixava num abraço apertado de quebrar costelas.

Concordavam quase sempre em gênero, número e grau. E embora discordar fosse um verbo possível, evitavam conjugá-lo. Também não usavam o brigar, o discutir e o mentir; jamais cogitaram o trair. Direta ou indiretamente, sempre chegavam aonde queriam, nos braços um do outro. E quando faziam uma oração, deixavam propositalmente o ponto final de lado. Nada entre eles remeteria ao fim.


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Ela Nela

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