Entre a cruz e a espada

Uma famosa executiva brasileira ao ser convocada para uma reunião de emergência, deu a sua equipe 15 minutos – e nem 1 segundo a mais – para que eles contassem o que tinha acontecido, o que havia dado errado.

Os ânimos estavam exaltados, a sala dividida. Acusações, dedos em riste em mãos trêmulas, tapas no ar e socos na mesa. Inadmissível, erro grotesco, jogada arriscada, perda consumada, futuro imprevisível. E ela continuava lá, em silêncio observando tanta gente gabaritada (diretores, gerentes e engenheiros) se comportando com a fúria de animais irracionais. Veias saltadas; olha só o que vocês fizeram; nós?; vocês; claro que não; como não?; se não tivessem gerados dados tão equivocados nossas decisões seriam diferentes; que desfaçatez vocês alegarem isso!

Ela confere o relógio mais uma vez, levanta a mão e praticamente sussurra: “senhores, podemos?”. Rostos vermelhos, olhos apertados, alguns – os mais fracos, sensíveis – em lágrimas, palavras perdidas no ar, frases soltas sem fim. O silêncio domina a sala e ela toma a palavra:

– Que bom que estamos aqui tão enérgicos. Que bom que temos o que defender, a que se agarrar e justificar. Mas faço uma pergunta aos meus caros colegas… O que vocês querem, ter razão ou ser feliz? – e sem dar espaço para reações completa – Pois bem, espero que a escolha seja pela felicidade. Vamos olhar para a frente e pensar no que podemos fazer para que não voltemos a passar por uma crise como essa. Ficar no passado, presos em justificativas e acusações, pode até no fim dar a um dos lados a honra da razão, mas e daí? A que preço isso foi conquistado? Vamos gastar o nosso tempo com o que realmente importa… Um plano de ação bem definido e COERENTE.

Sabe o que falta para nós, time Brasil? Olhar para a frente, para o futuro e sermos COERENTES com os nossos desejos e atitudes. Parar de querer ter razão a todo custo. Deixar os dois pesos e as duas medidas. Não achar que os fins justificam os meios.

Estamos em meio a uma crise daquelas, que nem é mais tão política ou econômica como achamos. A verdadeira crise que atravessamos é de caráter, essência, princípios e valores. O que vale para mim e para você, TEM QUE VALER também para o Joaquim e a Teresa.

E não interessa que o fim justificará toda a vista grossa que fazemos a um Cunha no Congresso Nacional, a um Temer na Presidência, a ministros acusados da mesma corrupção que gritamos ser contra… Que conivência é essa que aceita o mal, aquilo que é errado, contanto que resolva o nosso lado? Haja oportunismo, falta de caráter e egocentrismo. A felicidade na cegueira moral é um buraco sem fundo. Sim, QUEREMOS ser felizes, custe o que custar, doa a quem doer (contanto que não seja um de nós) e, claro, não sem antes tomar a razão à força.

Entre querer e ser de fato feliz, como a executiva ensinou ao seu time, precisamos respeitar os erros, assumi-los e tratar de não cometê-los de novo. Precisamos ser justos, coerentes para só então fechar os pontos do passado e seguir adiante. Acabaremos por aprender, cedo ou tarde, que não existe felicidade no erro, isso é pura ilusão.

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