Capítulo 2 – Sexo verbal

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Para entender a sincronia daqueles corpos, a sintonia daquelas almas e a energia que liberam quando estão em contato, é preciso parar um pouco a ação – o “amor”, as preliminares, o sexo – e voltar ao dia em que se conheceram. Não precisa ficar frustrado (a), você vai entender aonde quero chegar…

Era uma festa qualquer, ele intencionalmente buscando mais uma foda e ela querendo tirar de uma vez por todas o outro traste de sua cabeça. Ela indisposta para cantadas baratas, ele direto ao ponto: “boa noite, está acompanhada?” Não adiantou ser monossilábica, propositalmente desinteressada. Ele, obstinado em sua missão, continuou: “que bom. Você é muito gostosa, sabia? Sei que estou sendo um pouco cafajeste em dizer assim para alguém que não conheço, mas só de falar com você fico desse jeito…” Ela não conseguiu deixar de olhar, sinal de consentimento à história que se desenhava da cintura para baixo em alto relevo. Foi a vez dela sentir um comichão no meio das pernas.

Mais meia dúzia de palavras soltas antes que, de comum acordo, decidissem ir ao banheiro. Na fila, que ninguém ouvisse o conteúdo do que cochichavam um para o outro: eu te pego de jeito e te deixo louca… Vou passar minha barba em sua pele e te deixar arranhada, levemente ardida, para aliviar depois com minha língua e com um sopro de levinho… Gosta? Eu vou te engolir inteiro; duvido que consiga; não duvide de mim; está me provocando?; você não viu nada; qual posição prefere? Todas, alternadas… você é muito safada; você gosta? eu adoro mulheres safadas <risos nervosos e mãos tentando disfarçar o indisfarçável> vou te colocar em meu colo e…

Pronto! Terreno livre para o casal que, sem pudor, entra junto. Portas trancadas, o silêncio agoniante nos poucos segundos que precedem ao ato. Mais  palavras de baixo calão (eles amam aquilo!), corpos atracados, bocas coladas e, com o perdão da expressão, uma puta trepada.

O que era melhor? O que sentiam com a fricção de seus sexos ou com as palavras que os transportavam para dentro de um sonho erótico?  O que era imaginação, provocação e materialização do calor da paixão? Dois fodedores profissionais encontrando-se ali, com suas línguas afiadas e saindo de um roteiro de filme pornô… Excelentes narradores de uma cena explicada em sussurros, provocando um lado lascivo e instigando os sentimentos mais selvagens. Era pouca razão, muita emoção e puro instinto. Dois animais insaciáveis na busca do mais intenso dos prazeres.

Ela esqueceu o traste, ele esqueceu que existiam outras garotas. Eles esqueceram que estavam em uma festa e que tinha uma fila de pessoas esperando do lado de fora. Eles ignoraram o mundo… Naquele e daquele dia em diante.

Continuação: Capítulo 3 – Cheiro de Amor

 

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