URGENTE

A palavra URGENTE está em todos os lugares, hora sim hora não invadindo os nossos feeds de notícias. Num mundo de urgências, nada parece ser tão emergencial assim… E tudo perde a relevância.

É bomba que explode e mata inocentes, outra bomba caindo no colo do governo e expondo novos bastidores do poder no país e mais uma bomba no meio artístico com outro vídeo privado compartilhado descontroladamente em grupos de conversa instantânea. Tem ainda a bomba de chocolate, deliciosa, que de tão açucarada parece a única solução para dias complicados. Mas até o açúcar pode ser um veneno dentro dessa vida de excessos.

O prazer e o vício andam lado a lado numa fronteira sensível onde é fácil descambar de um lado para o outro. Somos atraídos por urgências, acostumamos com “bombas” e sempre esperamos mais. É vício. As notícias ganham volume, corpo, intensidade e parecem correr constantemente atrás de superação: que sejam ainda mais dramáticas, escatológicas, esquisitas, danosas, destrutivas e mortais.

Que provoquem uma ansiedade sem igual antes do clique, que estimulem a nossa curiosidade, e que despertem prazer já no primeiro parágrafo tornando leitores, coautores de uma corrente que faz as antigas fofocas ao pé do ouvido parecerem obsoletas, item de museu. É viral, vira meme. Desconstruímos o valor trazido, criamos conexões sarcásticas, elaboramos tiradas engraçadas e deturpamos o sentido do que era iminente, tornando-o imprescindível à experiência online, mas sendo logo esquecido, substituído ou ultrapassado. Das nossas incoerências: urgente, mas não muito num mundo de prioridades descartáveis.

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