#TáNaHoraDeParar

Era ciuminho bobo daqueles que mais parecem cuidado, sabe? Primeiro, ele procurava a direção para onde ela olhava. Depois, segurava a mão dela firmemente sempre que um outro homem se aproximava. Você me ama? Ama mais do que tudo? Do que todos? Você é minha e de mais ninguém? Perguntas em que não cabiam nãos.

A expansão do que ela entendia ser zelo foi, dia a dia, talhando a expressão de sua feminilidade. O fim do amor próprio em um relacionamento destrutivo, abusivo. Já não podia usar a roupa que queria. Quando se maquiava, era preciso explicar o porquê de se arrumar tanto… Para você, mas ele não acreditava. Nada de decotes, sugeria, estipulava, mandava. Você vai sair assim? Coloca aquela roupa que eu gosto, vai…

Médicas sempre mulheres. Com quem você trabalha? Tem homem na sua área? É casado? Por que está sorrindo tanto? Está olhando para aquele vendedor? Para o garçom? E se ousasse responder a essas perguntas como mereciam, se pelo menos sugestionasse negar a visão deturpada que ele tinha dela, fechava a cara, falava mais alto e, não raro, levantava e ia embora deixando ela para trás. Levava o problema, a discussão, para dentro do carro, da casa, longe de outras pessoas. E é quando vinham as ironias, os sarcarmos, as acusações e as ameaças. Para tranquilizá-lo, reconhecia um erro que não tinha, se desculpava pelo que não precisava e prometia mudar.

Queria a senha do celular. Quem é esse no seu Facebook? Por que você está seguindo um homem no Instagram? Quem te mandou mensagem? Liga agora na minha frente que eu quero ver. Não lembrava do primeiro safanão ou quando a segurou pelos braços com mais força. Um dedo em riste no meio da cara enquanto ouvia insultos que não merecia, gritos de alguém fora de si: eu mato você e ele se eu sonhar que está me traindo. Tapas, empurrões, socos. A pele roxa, o corpo machucado e a alma dilacerada.

Reconhecia muitos olhares como o seu na multidão. Num país onde uma mulher é agredida a cada dois segundos, não estava sozinha. #TáNaHoraDeParar, repetiu com coragem decidindo redefinir a própria história.


Hoje, dia 07 de agosto, a #LeiMariaDaPenha completa 12 anos, mas os dados do Relógio da Violência de nosso país mostram que estamos longe de poder comemorar. #TáNaHoraDeParar é uma luta minha e sua a favor do respeito à vida!

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