Mãe Hostil

 

Vem do novo comandante da Rota, polícia paulistana famosa por uma abordagem hostil e desmedidamente violenta, a declaração de que não somos todos iguais como diz a lei. Ele, comandante. Da polícia. Força de segurança pública. Que deveria seguir, vejam só, o que diz… A LEI!

É uma outra realidade [a encontrada na periferia]. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele [policial] abordar tem que ser diferente. Se ele for abordar uma pessoa, da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins [região nobre de São Paulo], ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado. Da mesma forma, se eu coloco um da periferia para lidar, falar com a mesma forma, com a mesma linguagem que uma pessoa da periferia fala aqui no Jardins, ele pode estar sendo grosseiro com uma pessoa do Jardins que está ali, andando”.

Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo, 46, o novo comandante da Rota

É a terra dos cinco estupros por hora, mas ó… Absurdos são os números  lá da Índia. É o lugar de 170 assassinatos por dia, um a cada nove minutos totalizando mais de 279 mil só nos últimos quatro anos – mas horror mesmo está a Síria, que mesmo imersa em um sangrento conflito contabilizou 23 mil mortes a menos que nós nesse mesmo período.  Isso considerando que aqui não temos (?) terrorismo, Estado Islâmico, Bashar al-Assad, grupos de resistência. Dentro de uma normalidade que não choca mais como deveria. Brasil, um pesadelo intenso, um raio vívido!

Gigante pela própria natureza, um monstro afundado em problemas e caos urbano. Aqui é terra de ninguém, do salve-se quem puder, do sobreviva a qualquer custo. Longe do penhor de uma igualdade cantada, garanta o seu lado: tranque bem as portas, construa muros altos, blinde o seu carro. Encontre espaço no seu orçamento para garantir um bom plano de saúde sem esquecer de poupar para uma aposentadoria com o minimo de dignidade. Evite passar por certas ruas, faça seguro de tudo! E no final, ainda tenha sensibilidade diante da falência do Estado contribuindo, além de tudo que já paga, com doações para quem aparentemente não dá a mínima bola pra você.

De falta de amor ou de esperança a terra desce. Em lama. Em obras mal realizadas. Em construções super faturadas e fundadas em material de quinta categoria. É o descaso com vidas humanas sujeitas a uma chuva que cai mais forte… É a ganância que desconsidera o valor de uma pessoa, de mais de 200 milhões delas. É também a falta de chuva na aridez de corações ressentidos, ressecados, desalmados diante de panelas vazias. De comida, não daquelas preenchidas de rancor e insatisfação seletiva.

A paz lá no futuro, que nunca pareceu tão distante e inalcançável. A glória do passado, qual era? Já não importa. Sobra um povo que ainda sofre com a exploração desmedida, escravizado à própria sorte. E ainda assim verás que um filho teu não foge à luta, porque não tem outro jeito: a lida é dura, mas precisa ser encarada de frente e sentida até que forme uma casca dura impenetrável. Diante da dor, da incredulidade; diante de assaltos, estupros, assassinatos, negligências e omissões.

Porque o sol da liberdade, em raios fúlgidos, já é poesia cantada sem o menor sentido, sem qualquer significado, sem sentimento de pertencimento e conexão com a realidade. Estamos presos, todos nós, amarrados a uma vida de miséria. Pobre de nós, pátria amada Brasil.

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